Novela da Minha Vida Profissional

ROBERTO CARLOS E EU



Na minha carreira de repórter e produtor de Rádio e TV tive vários episódios envolvendo o “rei” da Jovem Guarda. No primeiro deles, Roberto despontava com a música “Calhambeque” e veio se apresentar no programa “Noite de Black-tie”, comandado por Luiz Geraldo no auditório da TV-Jornal. Eu era assistente da direção administrativa da TV e logo após o show fui convocado para convidar Roberto a um encontro com a família do fundador da Empresa Jornal do Commercio, dr. F. Pessoa de Queiroz,  que estava no seu gabinete, ao lado também dos netinhos. Fui encontrar o artista já dentro do carro que o conduziria ao hotel.  Diante do convite, Roberto desculpou-se alegando cansaço e se prontificou a receber a  todos no São Domingos, hotel onde estava hospedado, o que realmente aconteceu.  A família Pessoa de Queiroz  não entendeu como prepotência do artista e se deslocou  até o hotel, onde foi carinhosamente recebida pelo grande ídolo da juventude e eu me saí bem da tarefa. 


NATAL EM MAIO

       Na década de 80 lá estava eu no extinto Othon Palace Hotel, em Boa Viagem para participar de uma entrevista coletiva com Roberto Carlos, que faria um show no mesmo dia no Geraldão. Compareci na condição de  produtor-executivo do “Programa Samir Abou Hana”, da Radio Tamandaré, líder de audiência na época.   Tinha sido encarregado por Samir de obter algo que eu próprio não esperava que fosse conseguir.  Mas, engatei o pedido  inusitado para o meio do ano  (era o mês de Maio) logoque a coletiva terminou: - “Roberto, grava uma mensagem de Natal para os ouvintes da  Radio Tamandaré”.  Lembro que Roberto deu uma gostosa gargalhada: - “Mas, bicho,  mensagem de Natal em pleno mês de maio?”

      A “risadagem”  tomou  conta da sala inteira. Os  puxa-sacos queriam agradar ao chefe. Foi quando Roberto surpreendeu a todos:
-  “O rapaz está certo. Eu não vou voltar este ano ao Recife e esta é a oportunidade que ele tem de fazer esse pedido. Vou atendê-lo. Liga o  gravador.’’  Naquele ano a Tamandaré teve o privilegio de irradiar uma mensagem natalina personalíssima  na voz do ídolo de todos os brasileiros, que hoje -19 de abril – faz mais um festejado aniversário.

NOVELA NO RÁDIO


Será que daria certo a volta da rádio-novela ?  Esse segmento é o de maior audiência da Rede Globo de Televisão hoje em dia.  No rádio isso também já aconteceu. Os empresários fogem da novela no rádio por causa dos custos. Mas, poderia se buscar um elenco da rádio-atores  nas escolas de comunicação ou no teatro a preço de experiência ou estágio. Fica a sugestão. Para quem acompanhou “Jerônimo – o Herói do Sertão” e outros seriados fica sempre dentro de nós a lembrança de um rádio inesquecível.

PROGRAMAS DE AUDITÓRIO


Os chamados “programas de auditório” conquistaram grande audiência e popularidade no rádio e na TV de Pernambuco. Hoje não existem mais.

Fui produtor de alguns deles:  “Festa de Brotos”, comandado por Antenor Aroxa, na Rádio Jornal;  “Programa Jota Ferreira”,  na TV-Jornal,  aos sábados, à tarde;  “A Noite é do 11”,na TV-Universitária, com José Maria Marques, cuja platéia  era formada por alunos das escolas públicas do Estado. Eram programas onde os artistas sentiam mais de perto o aplauso do público. 

Lamentávelmente, estão fora da pauta dos que fazem o  rádio e a TV nos dias de hoje, embora esses programas ainda existam em rede nacional.

(Miguel Santos)


A TV DO PASSADO


A programação da TV pernambucana (TV-Jornal e TV-Radio Clube) nos seus primeiros anos de vida, era inteiramente ao vivo. Começava às 4 da tarde e se encerrava às 11 da noite só com programas produzidos e apresentados por gente da terra e eventuais filmes. Hoje, com o advento das redes satelizadas, a TV passa o tempo todo ligada, difundindo a cultura do sudeste do País.

 A TV de ontem, apesar de toda a tecnologia de hoje, era melhor porque falava a nossa linguagem. Quem  acompanhou  “Noite de Black-tie”, comandado por Luiz Geraldo, e “Você faz o show”,  com Fernando Castelão, pode atestar  que nenhum programa do gênero produzido hoje suplanta em popularidade e qualidade aqueles  programas do passado, resguardada a parte tecnológica. Recordar é viver e...comparar. Se você se lembra pode perceber que eu tenho razão.

(Miguel Santos)

“ZÉ DO GATO”


Começou como redator esportivo. Depois, se tornou um dos mais populares comediantes da  TV pernambucana, chegando a ser cogitado para se transferir para o sul do País. Brivaldo Franklin de Melo atuou no departamento esportivo da Rádio Clube até se transferir para a Radio Jornal, abraçando a carreira de radio-ator.  Daí, virou comediante encarnando o matuto filósofo “Zé  do Gato”, criação do produtor Djalma Torres, outro talento pernambucano.  A atriz paulista Nair Silva formava a dupla cômica, que passou mais de três anos em evidencia na TV-Jornal. “Zé do Gato” fez historia na TV pernambucana. Humor brejeiro, jocoso, que não se faz mais hoje na Televisão brasileira.
(Miguel Santos)

LOCUTOR CARIOCA


Walter Lins, saudoso amigo, no auge de sua brilhante carreira de animador de auditório na Rádio Clube, costumava me convidar para acompanhá-lo toda vez que comparecia a  uma festinha em sua homenagem. 

Certa noite, estávamos numa dessas reuniões na casa de uma fã, quando Walter  resolveu, de surpresa,  me apresentar como se eu fosse um famoso locutor da Radio Nacional  do Rio de Janeiro, de passagem pelo Recife. 

Assumi o papel na certeza de  que Walter iria revelar que tudo não passava de uma brincadeira e que eu era na época um jovem jornalista, correspondente da “Revista do Rádio”.  Mas, a brincadeira foi longe demais.  Walter segurou a “onda” e eu passei a noite toda cumprimentando gente, dando autógrafos e falando com voz impostada de locutor carioca para não comprometer  o querido e inesquecível amigo. Coisas da nossa juventude!

(Miguel Santos)

O PODER DA CONCORRÊNCIA


Vejam como a concorrência influi na melhoria da qualidade de  qualquer produto consumido pelas pessoas. A Rádio Jornal, por exemplo, se mantinha na liderança de audiência, chegando a demitir alguns de seus bons profissionais. 

Alguns demitidos foram reforçar a programação da Rádio Tranzamerica do Recife, cuja audiência cresceu com isso. Resultado: a  Emissora Líder modificou sua programação para não perder pontos na preferência popular para  a nova concorrente, principalmente nos horários esportivos.  

Isso é bom para o ouvinte, já combalido pela falta de opções de bons programas no rádio pernambucano.

(Miguel Santos)